sexta-feira, 7 de junho de 2013

Uma conversa com o Juninho



- Eveline, agora você vai sempre, assim, escrever essas coisas que não são de cientistas?
- Como assim, Juninho? 
- Essas historinhas.
- Ah, Juninho, as historinhas são parte dos textos de cientista.  Vou continuar escrevendo até o fim do ano.
- Eu queria que você escrevesse a história da minha vida...
- Da sua vida?
- É, da minha vida.
- Juninho, você tem oito anos!  Não tá um pouco cedo, não?

Malditos ídolos adolescentes. Depois que lançaram a biografia do Justin Bieber aos 15 anos, a percepção das crianças sobre o que é uma biografia ficou bem distorcida.

- Acho que não, acho a história da minha vida interessante.  Queria que você escrevesse. Quando eu estiver bem velho, igual minha bisa, eu leio a história e me lembro de como foi. 

Eu me preocupo com crianças assim.  Crianças que pensam em Alzheimer aos oito anos de idade.  Pois como eu fui uma criança que se preocupava com a extinção das baleias aos oito anos, conheço os efeitos colaterais.  Não quero que ele tenha gastrite aos 17. 

- Você não tem que se estressar com isso.  Sua bisa se lembra de quando ela era criança, ela não lembra do que comeu no almoço.  É normal, eu também não me lembro mais o que eu comi ontem.
- Eu quero que você escreva mesmo assim. Eu gosto da história da minha vida, sabe? O jeito que eu nasci é diferente.
- Você está falando da história da sua mãe Dayana e da sua mãe Leila? Ah, Juninho, eu também adoro a história, mas eu só escrevo sobre animais.
- Você não pode colocar os meus cachorros na história?
- Não, Juninho.  Não tinha cachorro nenhum naquela época.  E sua mãe é uma escritora de verdade, uma poeta.  Eu acho que a história é dela, ela que tem que escrever.  E eu já te disse, que só escrevo sobre animais. 
- É aquela parada que você diz? Que só escreve sobre o que conhece?

Tem gente que sente prazer em aparecer numa coluna social. Tem gente que se infla toda quando é citada num artigo científico. Tem gente que fica satisfeita de receber várias curtidas no facebook. 

Minha vaidade é quando uma criança repete o que eu falo.   Eu me preocupo em só falar coisas boas, positivas e ecológicas, com a vã esperança de que isso vai fazer alguma diferença no futuro do planeta.  Mas a criança vai lá e repete a sua mania mais horrorosa:  falar “parada”.

- Isso aí. Eu só conheço animais, não sei nada sobre gente. Você sabe disso.
Juninho saiu sem me dar resposta, em direção à piscina. De repente, deu meia volta e veio firme na minha direção.
- Sabe o que eu não entendo, Eveline?
- O que, Juninho?
- Você não vive dizendo que eu sou um animal?  Que somos iguais a qualquer outro animal?  Que a vida do cachorro não vale menos que a minha?
- Você quer que eu comece a escrever a história da sua vida agora ou vai ser depois da piscina?

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