- Eveline, agora você vai sempre, assim, escrever essas
coisas que não são de cientistas?
- Como assim, Juninho?
- Essas historinhas.
- Ah, Juninho, as historinhas são parte dos textos de
cientista. Vou continuar escrevendo até
o fim do ano.
- Eu queria que você escrevesse a história da minha vida...
- Da sua vida?
- É, da minha vida.
- Juninho, você tem oito anos! Não tá um pouco cedo, não?
Malditos ídolos adolescentes. Depois que lançaram a
biografia do Justin Bieber aos 15 anos, a percepção das crianças sobre o que é
uma biografia ficou bem distorcida.
- Acho que não, acho a história da minha vida
interessante. Queria que você
escrevesse. Quando eu estiver bem velho, igual minha bisa, eu leio a história e
me lembro de como foi.
Eu me preocupo com crianças assim. Crianças que pensam em Alzheimer aos oito
anos de idade. Pois como eu fui uma
criança que se preocupava com a extinção das baleias aos oito anos, conheço os
efeitos colaterais. Não quero que ele tenha
gastrite aos 17.
- Você não tem que se estressar com isso. Sua bisa se lembra de quando ela era criança,
ela não lembra do que comeu no almoço. É
normal, eu também não me lembro mais o que eu comi ontem.
- Eu quero que você escreva mesmo assim. Eu gosto da
história da minha vida, sabe? O jeito que eu nasci é diferente.
- Você está falando da história da sua mãe Dayana e da sua
mãe Leila? Ah, Juninho, eu também adoro a história, mas eu só escrevo sobre
animais.
- Você não pode colocar os meus cachorros na história?
- Não, Juninho. Não
tinha cachorro nenhum naquela época. E sua
mãe é uma escritora de verdade, uma poeta.
Eu acho que a história é dela, ela que tem que escrever. E eu já te disse, que só escrevo sobre
animais.
- É aquela parada que você diz? Que só escreve sobre o que
conhece?
Tem gente que sente
prazer em aparecer numa coluna social. Tem gente que se infla toda quando é
citada num artigo científico. Tem gente que fica satisfeita de receber várias
curtidas no facebook.
Minha vaidade é quando uma criança repete o que eu
falo. Eu me preocupo em só falar coisas
boas, positivas e ecológicas, com a vã esperança de que isso vai fazer alguma
diferença no futuro do planeta. Mas a
criança vai lá e repete a sua mania mais horrorosa: falar “parada”.
- Isso aí. Eu só conheço animais, não sei nada sobre gente.
Você sabe disso.
Juninho saiu sem me dar resposta, em direção à piscina. De
repente, deu meia volta e veio firme na minha direção.
- Sabe o que eu não entendo, Eveline?
- O que, Juninho?
- Você não vive dizendo que eu sou um animal? Que somos iguais a qualquer outro
animal? Que a vida do cachorro não vale
menos que a minha?
- Você quer que eu comece a escrever a história da sua vida agora
ou vai ser depois da piscina?
Impressionante! Vc está cada vez melhor com seus textos "fofos".
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